O mercado financeiro, muito focado em grandes empresas de tecnologia como Apple e Nvidia, está presenciando uma transformação mais profunda, embora menos visível. O trio formado por BlackRock, Vanguard e State Street está se consolidando como um verdadeiro gigante, administrando cerca de US$ 29 trilhões em ativos. Para entender a magnitude desse valor, saiba que ele é superior ao PIB da soma da América Latina, África e Oriente Médio. Apesar de não estarem sempre nas manchetes, essas empresas têm um impacto significativo no mercado por meio dos ETFs (Exchange-Traded Funds).
A Ascensão dos ETFs
A história dos ETFs começa em 1993, com o lançamento do SPDR S&P 500 (SPY) pela State Street. A ideia era oferecer uma maneira simples e acessível de investir em uma carteira diversificada com taxas baixas. Essa ideia se mostrou eficaz. Hoje, o mercado global de ETFs movimenta cerca de US$ 16 trilhões, e as três gestoras dominam 79% desse valor.
Para manter essa liderança, cada empresa tem sua própria estratégia:
-
BlackRock: Com US$ 15 trilhões em ativos sob administração, através da linha iShares, busca um alcance global.
-
Vanguard: Com US$ 13,5 trilhões, destaca-se por oferecer custos extremamente baixos.
-
State Street: Pioneira no setor, com produtos como o SPY, permanece relevante.
A simplicidade dos ETFs, no entanto, traz um efeito colateral importante: a concentração de poder acionário nas maiores empresas do mundo.
O Poder Oculto das Participações Cruzadas
Ao replicar índices passivamente, essas três gestoras tornaram-se grandes acionistas de inúmeras empresas. Juntas, elas detêm cerca de 25% da Apple, 23% da Microsoft e 19% da Amazon. Esse nível de participação lhes dá um poder de influência significativo, permitindo que influenciem desde políticas ambientais e sociais até a escolha de conselheiros das empresas.
A situação fica mais complicada quando analisamos as participações cruzadas: a Vanguard possui 14% da BlackRock e 17,5% da State Street. BlackRock, por outro lado, detém 11% da State Street. Essa interdependência gera um conflito de interesses significativo, já que essas gestoras, ao votarem em assembleias, estão, na verdade, competindo em setores como aviação e farmacêutico.
Como consequência, há uma desconexão notável, pois o capital de fundos de pensão e aposentadorias está sendo gerido por empresas que exercem poder imenso sem consultar os investidores.
O Dilema da Regulação Antitruste
Essa situação cria um desafio para as autoridades. Como regular entidades que controlam trilhões de dólares em nome de outros? As leis tradicionais de antitruste, focadas em monopólios, não foram feitas para lidar com essa questão. Nos Estados Unidos, propostas como a que visa limitar essas participações estão sendo debatidas, mas o emaranhado jurídico é complexo, e as gestoras argumentam que são apenas fiduciárias, ou seja, têm a obrigação de agir no melhor interesse de seus clientes.
A Politização do Capital
Nos últimos anos, BlackRock, sob a liderança de Larry Fink, se destacou como uma defensor do “capitalismo de stakeholders”, promovendo objetivos ESG (Ambientais, Sociais e de Governança). Em 2023, 99% das propostas ESG apoiadas pela BlackRock foram aprovadas. Essa postura, no entanto, gerou controvérsias. Críticos alegam que a empresa utiliza o dinheiro de investidores para promover agendas políticas. A pressão foi tão intensa que a Vanguard decidiu se afastar do grupo Net Zero Asset Managers em 2022, adotando uma postura mais neutra.
Mitos e Fatos
A grandeza e a discrição desse trio alimentam várias narrativas que nem sempre correspondem à realidade. Aqui estão alguns mitos e os fatos correspondentes:
-
Mito: Elas dominam o mercado imobiliário dos EUA.
- Fato: Investidores institucionais controlam apenas 8% das residências unifamiliares. Sua influência é maior em imóveis multifamiliares e títulos hipotecários.
-
Mito: Elas ditam as políticas governamentais.
- Fato: O lobby combinado das três soma cerca de US$ 19 milhões em 2023. Em comparação, o setor de combustíveis fósseis investiu US$ 357 milhões. A influência delas é mais estrutural, através do voto, do que política.
-
Mito: Elas são donas da economia global.
- Fato: Aproximadamente 90% dos ativos que elas administram pertencem a terceiros. Sem a confiança de fundos de pensão e investidores, seu poder seria significativamente reduzido.
Três Cenários para o Futuro
Sobre o futuro desse trio, podemos imaginar três possíveis cenários:
-
Intervenção Estatal: A criação de leis que limitem as participações cruzadas poderia obrigar as gestoras a reestruturar seus negócios.
-
Disrupção Tecnológica: O uso de blockchain e a tokenização de ativos podem fragmentar o mercado, diminuindo a dependência de intermediários.
-
Continuidade Hegemônica: Este cenário é o mais provável no curto prazo. Sem novos obstáculos, é possível que esse trio alcance US$ 35 trilhões em ativos até 2035.
Conclusão: O Risco da Ideologia
O domínio da BlackRock, Vanguard e State Street gira em torno de um princípio essencial: gerar retornos para seus investidores. No entanto, a crescente associação de investimentos a posicionamentos ideológicos, como os padrões ESG, pode entrar em conflito com essa missão.
A lealdade dos investidores não é garantida. Se essas gestoras continuarem a adotar diretrizes que não atendem aos interesses de seus clientes, podem ver uma migração de capital para alternativas mais eficientes. A tecnologia avança, e plataformas descentralizadas estão se tornando cada vez mais viáveis, permitindo modelos de investimento que priorizam a performance sem influências externas.
Em suma, o cenário que se desenha é complexo, e a forma como essas gestoras se adaptarem a essas mudanças terá implicações profundas na economia e no mercado financeiro como um todo.
- Sabbats, Esbats e 10 rituais mágicos para aproveitar suas energias - outubro 19, 2025
- Como Neymar elevou mansão de R$ 28 milhões para R$ 75 milhões - outubro 19, 2025
- Comunidades do WhatsApp: guia prático para gestão e engajamento - outubro 19, 2025